domingo, 31 de dezembro de 2006

O LIVRO

Livro do Dr. Rafic Bittencourt, médico cirurgião vascular, publicado pela Editora Erudita em 2001.

"A leitura deste livro é um convite à mulher, que lhe descortina a possibilidade de olhar e cuidar do próprio corpo sem grandes inquietações, na medida em que passa a entender o que ocorre com ele.

O texto é esclarecedor, percorrendo as questões relativas ao tema VARIZES, de forma clara e envolvente. O trabalho é um produto da sensibilidade do autor, desenvolvida na escuta apurada das pacientes, no decorrer de vasta experiência clínica.

Na sua narrativa, o autor soube equilibrar o conhecimento médico científico com uma linguagem acessível ao público leigo, o que faz do projeto algo corajoso e inovador, além de educativo."

(Dra. Maria Pinto - Psicanalista)

INTRODUÇÃO E CONTEÚDO

Varizes. Microvarizes. Varicoses. Vasos.
Afinal, o que são, qual a diferença e como posso ficar livre delas?
Existem ainda muitas dúvidas. As mulheres olham para as pernas e enxergam estas formaçõesque parecem um mapa, ora avermelhadas, ora esverdeadas, ora azuladas.
Em uma coisa a unanimidade é geral: São feias! Mas afinal, como a Medicina pode ajudar?
Presentes na história da humanidade, desde tempos muitíssimo remotos, as varizes já eram uma das referências, no chamado “Papiro de Ebers”, manuscrito datado de cerca de 15 séculos antes do nascimento de Cristo e proveniente dos conhecimentos dos médicos do antigo Egito dos faraós.
Em minha prática de consultório, durante os últimos vinte anos, tratando das varizes dos membros inferiores, venho ouvindo as queixas, os mitos, as ansiedades e os medos das pacientes que por lá passam diariamente. As dúvidas são as mais variadas possíveis, mas, ao final de alguns anos, iam se repetindo.
Depois de algum tempo, me dei conta que não estava ali somente para tratar as varizes de tantas pacientes, mas para orientar, responder perguntas, ajudar a dissipar os medos e também para tratar pacientes que tinham varizes.
Um dia, conversando com uma delas, me perguntou: - Doutor: Existem livros sobre diabetes, pressão alta, colesterol, emagrecimentos, bebês. Não existe um livro, feito para o leigo, sobre as varizes? Realmente, não sabia responder. Quase me deu vontade de dizer: - Leia o meu livro!
Mas eu não tinha escrito nenhum livro. Por isto, não pude responder desta maneira.
Quer dizer: tinha e não tinha.
Estava tudo dentro da minha cabeça. Como seria e para quem seria. Mas ainda não o tinha escrito. Voltei para casa e resolvi que era a hora de começar a escrever.
O resultado, você, que não é médica, é que vai poder me dizer. Porque este livro, está sendo escrito para o leigo. Com palavras de fácil entendimento e raciocínio o mais simples possível, sem o exagero do jargão científico, mas usando o conhecimento médico e os estudos científicos, para mostrar a experiência alcançada por vários médicos, assim como a minha, no tratamento das varizes.
Começo com “O Diagnóstico”, onde faço um alerta de que nem sempre o óbvio é tão evidente. Procuro, depois, mostrar que existe muita confusão, ao se misturar palavras como veias e artérias.
No breve tópico “Um pouco de Anatomia”, mostro a diferença entre circulação das veias e das artérias e seus significados distintos no corpo humano.
Em “Qual a Causa?”, tento responder aquela pergunta mais frequente, que é sobre o que causa as varizes. Aqui é mostrado que pode não existir uma única causa mas um somatório de causas e assim faço uma síntese dos principais fatores responsáveis pelo aparecimento das varizes.
A seguir, em “Tipos Mais Comuns”, são mostrados os tipos que mais aparecem na prática clínica, ou seja, os padrões mais usuais que acometem as mulheres, como visto no cotidiano do consultório.
“O Que as Varizes Podem Causar” é um miniglossário, trazendo alguns termos médicos usados. Com a sua interpretação em linguagem simples e alcançável ao público leigo, mostro determinadas situações que estão intimamente ligadas as varizes.
Com o intuito de romper tabus absolutos em torno das varizes, mostro, no tópico “Os Mitos”, que muitas coisas não são, de maneira absoluta, o que dizem ser.
Em “Condições Associadas às Varizes”, faço um levantamento de algumas situações que levam ao aparecimento desta doença, com base em estudos científicos.
“Situações Especiais” é um apanhado de três diferentes condições, que têm importância, respectivamente, pela sua constância como queixa clínica no consultório, sua atualidade e para desmistificar uma situação de constrangimento para certas pacientes.
O tópico “Prevenção”, traz dicas de como prevenir o seu aparecimento e o que se deve fazer para não agravar o quadro clínico.
Uma discussão sobre pontos de vista controversos, interessando as drogas que atuam no tratamento medicamentoso, é abordada em “Remédios: Até onde Ajudam?”.
Como não podia deixar de faltar, as “Meias Elásticas” tiveram um tópico somente dedicado a elas, pelo seu papel importante quando se fala em varizes.
O “Tratamento” vem dividido em dois importantes sub tópicos, que são o tratamento clínico e o cirúrgico, descrevendo sucintamente determinadas técnicas utilizadas em ambos.
Em “Considerações Finais”, procuro mostrar que o diagnóstico de varizes, não é sinônimo de conformação ou de sofrimento, como era no passado, passando uma imagem positiva de como se pode tratar esta doença, de forma muito menos agressiva e com bons resultados.
Finalmente, termino com o “Apêndice: Varizes e os Planos de Saúde”, para mostrar alguns detalhes técnicos e meandros burocráticos, de como as Varizes são encaradas pelos contratantes de serviços médicos.

O DIAGNÓSTICO

Na maior parte das vezes, o diagnóstico é feito pela própria paciente. Isto porque as varizes são formações que se externam nos membros inferiores e é possível notar as dilatações das veias logo em seus estágios iniciais.
Muitas vezes, há confusão em relação à veias que são estruturalmente normais, mas com maior ou menor grau de dilatação visível, daquelas que são realmente varicosas.
É comum ver mulheres no consultório, que tem dúvidas a respeito de ser uma ou outra veia da perna, realmente varicosa.
Algumas até se espantam quando faço o diagnóstico de varizes, em veias que imaginavam serem “normais”. Dizem que nunca procuraram o especialista, pois achavam que se tratasse de veias comuns das pernas e por isto nunca se sentiram incomodadas, até o dia em que os sintomas começaram.
O contrário também é verdadeiro. Existem aquelas que vão ao consultório buscando um tratamento para uma determinada veia “varicosa”, mas que ao exame clínico revelasse como uma sendo uma veia absolutamente normal.
Um exemplo comum: Algumas veias estão presentes em certas localizações fixas, como, por exemplo, a Veia Safena, que em mulheres magras, faz uma pequena protuberância junto ao tornozelo. Por vezes, esta veia fica um pouco mais saliente devido a estar junto de uma estrutura óssea, sendo então confundida como sendo varicosa.
É claro que o nosso objetivo é identificar e tratar as varizes, o mais cedo possível, para que não haja necessidade do diagnóstico ser feito, de forma tão inconveniente, digamos assim, por uma parente ou amiga, que, sem querer, faz o diagnóstico (leia-se crítica), com aquele (leia-se crítico) comentário “informal”.
Embora possa parecer simples, não é apenas através do fator visual que se faz um diagnóstico de varizes dos membros inferiores. Aceitar-se que, apenas ao olhar para as pernas e ver veias dilatadas, é suficiente para se fazer um diagnóstico, seria um minimalismo um tanto quanto incerto e impreciso.
Na análise do diagnóstico, fatores como sintomas referidos, sinais observados e exames complementares, são aliados do médico que lida com esta situação clínica.
Dentre os sintomas, a dor nas pernas, é a mais presente nas consultas. Quanto maior for a precisão em localizar a dor, maior a possibilidade de estar associada à presença de varizes. Dores que envolvem toda a perna, desde a raiz da coxa até o pé, tem maior chance de estarem vinculadas com alguma outra doença.
Algumas vezes, mesmo o exame muito minucioso, pode não mostrar a presença de varizes, de forma direta, ou seja, pela sua presença incontestável, em tal ou qual paciente. Mas, sinais indiretos, como, por exemplo, manchas acastanhadas que ocorrem na região próxima aos tornozelos, podem servir de subsídios para um alto índice de suspeição.
Os exames mais comuns aplicados ao diagnóstico, antes através de meios clínicos, com complicadas manobras de garroteamento (apertavam-se fortemente as pernas, com tiras e faixas), foram atualmente substituídos por exames com aparelhagem de ultra-som, que permite ver as veias, medir fluxos, observar características dinâmicas e analisar as alterações morfológicas de veias e artérias, tanto
superficiais quanto profundas nas pernas, sem necessidade de injeções de contrastes.
Mas nem todos os casos devem ser, via de regra, investigados com todo o arsenal tecnológico disponível, por ser absolutamente desnecessário e infrutífero. Para as situações onde haja uma necessidade de comprovar a presença de varizes, ou mesmo de suas complicações, modernos métodos de diagnóstico por imagem, que vão ser importantes em uma decisão do médico, por exemplo, na escolha do tratamento ideal para um determinado paciente, tem uma indicação mais precisa e racional.
Sobretudo, além de qualquer outro exame, o diagnóstico também é clínico, baseado na conversa entre médico e paciente.
Mesmo a paciente que chega ao consultório, sem qualquer queixa clínica, como dor na perna, por exemplo e apenas querendo fazer um tratamento com finalidade estética, deve ser ouvida em relação a tratamentos anteriores, possíveis doenças, alergias, etc.